terça-feira, janeiro 31, 2017

Trump separa casal

Muhamad Moustafa e Nabila Moustafa são um casal de imigrantes sírios a viver nos EUA. Estão agora separados por causa da decisão de Donald Trump, de impedir a entrada de cidadãos de alguns países muçulmanos no território americano.Muhamad Moustafa está em Washington, com um visto J1, no âmbito de um programa académico na área da medicina. Nabila foi com o marido para os EUA e teve que viajar para o Catar, para visitar a mãe que terminou há poucas semanas o tratamento contra o cancro no peito.
Depois de Donald Trump assinar a ordem executiva a proibir a entrada de imigrantes de sete países e refugiados sírios no país, este casal vive agora um pesadelo.
Nabila chegou aos EUA pouco depois de a ordem executiva ter entrado em vigor - depois de ter antecipado a viagem, para a evitar - e foi de imediato barrada pelos agentes fronteiriços.
"Não é americana e não pode dizer 'o meu visto' porque o visto pertence aos EUA", contou Nabila à ABC News sobre a conversa que teve no aeroporto, onde lhe foi negado o acesso a um tradutor, advogado e a conversar com o marido.
Resultado de imagem para trump"Queria tanto ver o meu marido e pedi para me concederem essa coisa tão simples, mas recusaram de imediato. Eu estava a tentar manter a compostura durante todo o processo, mas não aguentei mais. As lágrimas que eu estava a conter escorreram".
Duas horas depois de aterrar nos EUA, foi deportada de novo para o Catar, tendo de receber assistência médica. Do outro lado da porta, estava o marido, que a tinha ido buscar ao aeroporto.

"É assustador, porque eu não posso sair dos EUA. Se sair, não poderei voltar e continuar a minha formação. Este é o meu futuro", lamentou Muhamad Moustafa. "Não tenho para onde ir. O único sítio para onde posso ir é a Síria e lá está terrível neste momento".

quarta-feira, janeiro 25, 2017

Corram com os “meus turras” que saberei agradecer

Resultado de imagem para Recep ErdoganPresidente turco diz haver células ligadas ao golpe de Estado de 2016 em Moçambique.O Presidente da Turquia pediu ao seu homólogo moçambicano Filipe Nyusi que o ajude a caçar os seus adversários políticos que ele considera terem estado por trás da tentativa de golpe de Estado em Julho do ano passado. Recyp Erdogan alertou nesta terça-feira, 24, para o perigo dos referidos grupos e disse esperar que Moçambique dê a sua cooperação, como um país amigo.O pedido foi feito num encontro a sós com Filipe Nyusi e no qual Erdogan deixou aquele que foi um dos principais objectivos da sua visita a Moçambique.Durante cerca de 20 minutos, Erdogan disse a Filipe Nyusi que quer o apoio de Moçambique para neutralizar células terroristas turcas que se encontram infiltradas no país."As alegadas células estão envolvidas em actividades ligadas ao sector do ensino e outras actividades sociais que parecem inofensivas ou mesmo ligadas ao desenvolvimento, mas tem por trás, planos terroristas que podem afectar Moçambique", sustentou o Presidente turco.De acordo com informações de fontes que não se quiseram identificar, um dos alvos de Erdogan é a Willow International School, um dos maiores centros de ensino em Maputo, reconhecido pela sua qualidade e que serve, basicamente, filhos das elites políticas e económicas do país.As autoridades de Ancara consideram a escola um dos investimentos do movimento Gulen e que deve ser encerrada.A direcção da Willow recusou fazer qualquer comentário.
Mapa de willow international school costa do sol

Os governos de Moçambique da Turquia abriram uma nova página no capítulo das relações bilaterais, ao assinarem hoje, em Maputo, quatro acordos de cooperação destinados a conferir ímpeto e ganhos mútuos nos domínios contemplados.Trata-se do acordo sobre supressão de vistos em passaportes diplomáticos e de serviço, rubricado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, e seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu. Os dois ministros assinaram igualmente o acordo de consultas políticas.O acordo sobre a cooperação comercial e económica foi assinado pelo Ministro da Indústria e Comércio, Max Tonela, e sua contraparte turca, Nihat Zeybekci, que é o titular da pasta da economia. Os dois dirigentes rubricaram ainda o acordo sobre a promoção e protecção de investimentos.Os dois governos assinaram dois memorandos de entendimento, dos quais o primeiro no domínio da cultura e o segundo sobre o turismo, rubricado pelo titular da pasta, Silva Dunduro, e seu homólogo daquele país.Os acordos constituem o saldo da visita que o Presidente da Turquia, Recep Erdoğan, está a efectuar ao país, a primeira de um estadista turco desde que os dois países estabeleceram laços de amizade e cooperação há 40 anos.Erdogan, acompanhado por uma delegação de 150 empresários, foi recebido com 19 salvas de canhão, e manteve demoradas conversações com o Presidente Filipe Nyusi, durante as quais avaliaram o nível de cooperação e relançamento do capítulo promovido pelo seu governo, que coloca acento tónico na “diplomacia económica”. 
Resultado de imagem para Recep Erdogan moçambiqueSegundo o estadista moçambicano, para além de ser um país amigo e irmão, a Turquia constitui porta de entrada ao Médio Oriente e os indicadores da cooperação que estão para além de encorajadores permitem afirmar que vale a pena consolidar essa relação. No entanto, sobre outros temas que avultaram nas conversações, Nyusi disse que haverá aspectos concretos que os dois países vão privilegiar nos comités conjuntos que trabalharão no detalhe do que deve ser implementado. A visita do presidente turco a Moçambique está inserida no périplo que está a efectuar por três países da região, iniciada na Tanzânia, seguida de Moçambique, e que deverá terminar no estado insular do Madagáscar.

Crimes passionais,preocupam!

Onze dias depois do crime macabro envolvendo o casal Stefan Filipe e Darlen Cossa, no bairro de Inhagoia, mais um jovem assassinou a mulher alegadamente por motivos passionais na capital moçambicana. Desta vez, o homicida, ora a contas com as autoridades policiais, desde o último sábado (21), é um cidadão de apenas 24 anos de idade, o qual pôs fim à vida da namorada com recurso a um instrumento contundente, no bairro das FPLM.
A vítima tinha também 24 de idade. O suposto assassino é vigilante de uma empresa de segurança privada, segundo o Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Maputo.
O homem alegou que o crime, ocorrido no dia em que foi detido, resultou do facto de ter chegado à casa e encontrar a sua companheira bastante bêbada, o que para a corporação não justifica tirar a vida de alguém. “Acreditamos que se trata de mais um crime passional”, disse Orlando Mudumane, porta-voz da PRM, falando à imprensa, na manhã desta segunda-feira (23), sobre a situação da ordem e segurança pública entre 16 e 22 de Janeiro corrente.
Este é o segundo terceiro crime pretensamente passional, que acontece em Maputo e Sofala, este ano, em menos de duas semanas.
O primeiro deu-se por volta das 19h00 , no bairro de Inhagoia, onde um jovem que em vida respondia pelo nome de Stefan Filipe, de 31 anos de idade, assassinou a sua esposa, Darlen Cossa, de 27 anos, com recurso a uma faca da cozinha. Em seguida, o homem imolou-se e o seu cadáver foi achado no tecto da própria casa.
O segundo aconteceu por volta das 23h00 de domingo (15), no município de Dondo, na província de Sofala. Uma adolescente de 17 anos de idade encontra-se detida, suspeita de matar o namorado, de 25 anos, quando este lutava com um suposto rival, por sinal professor.
Resultado de imagem para homicídios maputo jovens
Como acontece em muitos dos países do mundo, os dados de crime e violência são difíceis de se obter e não são fiáveis devido a uma série de factores, incluindo deficientes sistemas de registo, reduzidas taxas de reporte à polícia (devido à falta de confiança na polícia e no sistema de justiça criminal) e a inexistência de um sistema padronizado de recolha de dados. Convidamos a lêr AQUI o relatório  “Avaliação do Crime e Violência em Moçambique”. O presente relatório representa uma avaliação da situação do crime e violência em Moçambique e foi realizado entre os meses de Agosto 2011 e Março de 2012. O estudo foi realizado com o objectivo de proporcionar uma visão abrangente sobre a situação do crime e da violência em Moçambique.

segunda-feira, janeiro 23, 2017

“As empresas, em reorganização, deviam ser geridas por estrangeiros”

Resultado de imagem para Peter HillÉ a primeira grande entrevista em que ‘abre o jogo’ abertamente sobre os processos críticos que herdou na gestão da TAAG. Peter Hill, britânico de nacionalidade, é um consultor internacional de empresas de aeronáuticas, com especialidade em ´start-ups’ aéreos e ‘rebranding’. No seu longo ‘currículo aéreo’, constam os cargos de PCA das linhas aéreas de Oman, (2008-2011), Sri Lankan Airlines (1999-2008), além de várias consultorias prestadas a FlyDubai, GM Commercial. É membro fundador da Emirates, a companhia que o trouxe à TAAG. Hill, o britânico que gere a companhia aérea de bandeira angolana desde Setembro do ano passado, explica como desfez negócios “intocáveis” e por que razão apenas um estrangeiro seria capaz de tornar a TAAG numa empresa rentável. Mais ao fim, não deixou de mencionar a meta histórica de médio prazo: elevar as receitas ao nível das despesas da companhia.
Resultado de imagem para rotas da TAAG Já se passaram 12 meses à frente da TAAG. Qual é o balanço possível? É verdade. Foi há15 de Setembro de 2015 que eu e minha equipa, porque somos uma equipa, tomá- mos posse da gestão da TAAG. Entretanto, o plano de negócios que vimos executando, concebido pelo Governo em colaboração com a Emirates, para ser implementado nos próximos 10 anos, foi desenvolvido na primavera de 2014. Nessa altura, o país estava numa situação muito diferente, em relação à situação em que se encontrava em Setembro de 2015, quando tomamos posse, e que se arrasta até agora. Em 2014, o país ainda estava numa plataforma muito positiva. O petróleo ainda estava a vender perto de 100 dólares o barril e a vida era boa. Todo o mundo estava ansioso para mais expansão económica, maior desenvolvimento, mais investimentos, assim por aí. Passou-se um ano e a coisa toda mudou. E foi nessa altura em que assumimos a gestão da TAAG. Acho que não se poderia ter escolhido uma turbulência pior para assumir o comando.
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Em que estado encontrou a empresa? A empresa atravessa por um período de grande expansão. Novas aeronaves, novos equipamentos, foi removida da lista negra, de modo que novas rotas foram iniciadas e tudo caminhava a bom ritmo. Era assim há vários anos. Quando começámos a olhar para os livros, para o modo como a forma de gestão como foi concebida, tenho de dizer que foi uma confusão. Não necessariamente por culpa de alguém em particular, mas apenas porque estava fora de controlo. Por isso, tivemos de segurar e estabilizar o navio. Tivemos de analisar as contas, a organização e, basicamente, remodelá-la para tentar adequa-la ao que esperávamos que viesse a tornar-se uma empresa sólida. É o que temos vindo a fazer desde então. Houve uma atenção especial à questão financeira, certamente. Reformulámos completamente a situação financeira da empresa. Agora podemos dizer, com segurança, que sabemos exactamente quem somos e que dinheiro devemos. Sabemos o que está no banco e sabemos para onde estamos a ir, em termos do nosso desempenho financeiro. Sabemos o que temos de aprovisionar, à medida que vamos para frente. É um quadro muito diferente do que herdamos. Agora recebo um extracto mensal das contas, verdadeiras e factuais. Estou muito confiante em que o Governo está muito feliz com isso, os nossos credores também, e, certamente, a equipa de gestão está confortável com isso.
Resultado de imagem para Peter Hill TAAGSentiu necessidade de manter algumas práticas anteriores, já que se trata de um negócio do Estado e que, por isso, encerra outras preocupações de cariz social, por exemplo? Relativamente à organização, nós tivemos de racionalizá-la. Reconhecemos que isto é um negócio do Estado, logo há pressupostos a manter. Há muitos trabalhadores na organização que não estão necessariamente nas posições adequadas. Temos de reconhecer isso e tomar as medidas adequadas para tentar ou retreiná-las ou mudá-las para outras áreas. São pessoas, digamos, complicadas. Não por culpa delas, mas, se calhar, por culpa da gestão anterior. De qualquer forma, não despedimos ninguém. A única coisa que fizemos, em termos de redução da força de trabalho, foi olhar para todas as pessoas que estão acima da idade de aposentadoria e certificar-se de que elas se aposentassem. Nem todo o mundo quer reforma, mas eu tenho a obrigação de criar espaço para as pessoas novas entrarem.Os mais jovens precisam de ser promovidos, é sua prerrogativa, seu direito e temos a certeza de que é possível.
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Como primeiro PCA não-angolano, na história da TAAG, enfrentou resistência por esse facto? Ou terá sido pelas reformas que aplicou? Esta não é a primeira vez que assumo um cargo, como estrangeiro. Estive em Omã, no Sri Lanka e fiz parte da equipa que fundou a Emirates. Logo, isso não é novo para mim e não o é para a maioria da minha equipa também. Em termos de TAAG, isso foi completamente novo. O pessoal ficou realmente um pouco preocupado que isso tenha ocorrido. Tive conversas com ministros e vários funcionários do Governo. É muito mais fácil para um estrangeiro chegar a uma empresa aérea, como a TAAG, e implementar políticas que realmente têm efeitos benéficos sobre o negócio. Elas podem até perturbar as pessoas em Angola, mas a pessoa encarregada de as realizar, no caso eu, não tem qualquer pressão que não seja a pressão de ser o CEO da empresa.
Resultado de imagem para Peter Hill TAAGDeve depreender-se que a TAAG não avançaria com angolanos à frente? Pelas razões que referi, é mais fácil para mim implementar a mudança, do que seria para um angolano. Porque o angolano seria pressionado por todos os tipos de pessoas e interesses externos. Quanto a mim, eu realmente tive a vida facilitada. Quando se coloca algum tipo de pressão de alguém do Governo para fazer determinada coisa, respondo: eu tenho um mandato do Presidente, que me diz que isso tem de acontecer como um negó- cio. Eu simplesmente indico isso, quando alguém me desafia, inquirindo por que faço isso ou aquilo. Quando lhes digo isso, eles recuam. E eu acho que isso é benéfico. Se quem estivesse sentado na minha cadeira fosse um angolano, acho que seria muito mais difícil para ele. Mesmo para mim, não é simples, mas eu não tenho essa pressão. Por isso, acho que empresas como esta, quando se estão a reorganizar, devem talvez trazer um estrangeiro por um período de tempo, apenas para assentar as coisas, nivelar a empresa, colocá-la num melhor curso, e depois devolvê-la a um angolano qualificado, para assumir o comando. Recentemente, disse à imprensa que a TAAG conseguiu poupanças de 70 milhões de dólares em um ano.
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Que despesas teve de cortar? Os 70 milhões de dólares é o montante que conseguimos economizar desde a nossa chegada. Na realidade, no total são 120 milhões de dólares, porque há ainda os 50 milhões de dólares que tivemos de aprovisionar para as contas deste ano e do ano anterior.
Como fizeram isso? Tivemos de passar pente a tudo. Analisámos os contratos e a forma como estes foram concebidos. Será que precisamos de todos eles? Tínhamos contratos de consultoria em quase todas as áreas da nossa actividade. E eu perguntava-me: se eu tenho um gestor aqui que deve desempenhar a sua função, por que razão tenho um consultor sentado ao lado dele a fazer o mesmo trabalho? Ou o gestor faz o trabalho ou o consultor! Não preciso de duas pessoas para o mesmo trabalho. 
Resultado de imagem para rotas da TAAGEra assim em toda a empresa. Por isso, tivemos uma grande racionalização em ambas as áreas. Ou dispensámos o consultor, o que foi invariavelmente o caso, ou dissemos ao gestor: se não é capaz de fazer, sinto muito, vamos ficar com o consultor até ao momento em que podermos colocar o nosso próprio funcionário e aí o consultor sair. Por conta disso, nesse momento, temos muito poucos consultores. Na verdade, a empresa gastava muito dinheiro com consultores, estamos a falar em milhões de dólares. Esse processo começou no topo e estendeu-se a todas as áreas: operações, finanças, tecnologias de informação, etc. Não conseguia acreditar na quantidade de consultores que trabalhavam para esta empresa. Essa foi a primeira coisa.
Resultado de imagem para Peter Hill TAAG Houve mais? Sim, os contratos com os fornecedores. Tínhamos todo o tipo de fornecedores, poucos bons, alguns não tão-bons e outros ainda inacreditáveis (risos..). Uso essa palavra “inacreditável” e deixo-o pensar o que pensar. Reavaliámos todos esses fornecedores, renegociámos tudo, até mesmo os bons. Novamente, houve milhões que foram poupados. A TAAG é relativamente uma pequena companhia aérea, mas há muitos anos que comprava coisas de que realmente não precisava. Temos grandes excedentes de equipamentos em todas as áreas. Estamos a tentar dispor de excessos, onde podemos, pelo menos as coisas de que não precisamos. Alguns desses módulos temos de viver com eles, outros tentamos eliminar. Não é uma tarefa fácil, mas estamos a tentar remover todos os processos duplicados e os processos excedentes que existiam. No fundo, analisámos os processos e emagrecemo-los. Assim, a gestão, de certa forma, ficou muito mais simplificada. 
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Hoje, o pessoal vê o que é, enquanto, antes, tínhamos tantos processos na empresa, que era difícil saber o que era válido e o que não era. A redução dos processos permitiu-nos também encontrar maneiras de fazer com que muitas pessoas executassem diferentes tarefas muito melhor do que eram capazes antes. Deixou de fazer sentido, por isso, a quantidade de consultores que forneciam informações que não eram usadas. Foi-me dito, entretanto, que eliminar alguns desses contratos não seria fácil.
Por que razão lhe disseram isso? Porque havia muitas empresas locais, agentes locais, todo o tipo de pessoas envolvido por trás desses processos, desses contratos. Eu respondia ‘ok’, mas o meu mandato é para cortar custos, sempre que for possível e é o que venho fazendo. E isso foi apenas uma vez, em todos esses processos, que me foi dito que havia processos intocáveis. A realidade é que as pessoas que me disseram que se oporiam, não se opuseram. E, no fim de contas, fomos capazes de sanear muita coisa, o que produziu enormes poupanças.
Resultado de imagem para Peter Hill TAAG
Voltando à questão dos recursos humanos. Admite a possibilidade de baixar salários? Não necessariamente. Apenas racionalizar o trabalho, olhando para a taxa de trabalho no mercado actual. Muitas empresas estão a fazer isso agora. Quando não se está a ganhar tanto dinheiro quanto antes, tem de se certificar que a força de trabalho seja acessível. Se não for acessível, então tem de se fazer algo. Podemos ter de encontrar um mecanismo de oferecer um esquema de afastamento voluntário. Dessa forma, podemos ter de oferecer às pessoas um pacote de pagamento que vai encorajá- -lo a pensar se quer ficar ou partir. Quem partisse seria devidamente compensado. Esta empresa já fez isso antes, certas posições foram eliminadas, mas depois foram recrutadas novamente. Não é muito inteligente fazer isso.
Resultado de imagem para rotas da TAAGSobre as rotas da TAAG, fala-se em algumas não rentáveis. Considera fazer cortes? Há certas rotas que não têm sido rentáveis quanto gostaríamos que fossem. O voo para Cabo verde, por exemplo, leva 5,5 horas no meio do oceano Atlântico. É uma rota muito cara, pois custa-nos 2,5 milhões de dólares por ano, para transportar apenas, em média, 20 pessoas por voo. O 737 faz ida-e-volta com a carga toda. Falando claramente, não podemos dar-nos a esse luxo. Então, Cabo Verde vai sair da programação. 
Claro, que se o Governo nos disser: “queremos que mantenha o voo e estamos preparados para subsidiá-lo”, nós aceitaremos. Se o governo de Cabo Verde disser: “vamos dar-vos concessões, reduzir as taxas de aterragem, o custo do combustível, etc, etc, se chegarmos a algum tipo de assistência, vamos continuar a rota como um serviço público. Mas, até lá, as pessoas que me desculpem, a empresa tem de ganhar dinheiro.
Resultado de imagem para Peter Hill TAAGE voos domésticos são rentáveis? Não sei. Têm o seu custo, digamos assim. Estamos a operar uma abrangente rede de voos domésticos, melhoramos um pouco nos horários. Alguns desses voos têm ligação com as rotas que deixam Luanda para outros destinos, como Lisboa. Lisboa é muito popular na nossa rede, por isso é útil que alguns desses voos conectem, para que possam fornecer mais ligações a Lisboa e Porto e vice-versa. Realmente, tivemos de analisar a programação nacional e internacional e é curioso notar que, se olharmos para as rotas internacionais, o que acontecia era que os voos são Angola para outros lugares, e de outros lugares para Angola. Não é esse o potencial de Luanda. Luanda é um ponto importante e estratégico para os serviços aéreos ao sul do Sahara e precisamos aproveitar isso. Por outras palavras, precisamos trazer os voos provenientes da América do Sul, Europa, China, que liguem Luanda a outros pontos em África, de modo a que pessoas viagem de uns destinos para outros e possam usar os nossos voos para isso. Isso é algo que nunca foi feito antes.
Porquê? Primariamente, é preciso ter um visto para transitar por Angola. Quando chegámos aqui, reunimo-nos com oficiais do departamento de migrações, altos funcionários ministeriais e dissemos-lhes: “olhem, Luanda é uma potencial placa giratória, não precisam pedir vistos a quem entra em Angola”. E eles concordaram e estão a eliminar a maior parte dos vistos de trânsito para as pessoas que apanham voos de ligação dentro de 24 horas, e os resultados do sucesso já são significativos. Embora o mercado angolano não cresça de momento, estamos a conseguir trazer os clientes dos mercados ao redor, o que aumenta a nossa carga dentro e para fora de Angola em voos internacionais. Por exemplo, quando, em Março ou Abril, começámos a ligar Joanesburgo e Cidade do Cabo, para os nossos voos para Lisboa e Porto, tínhamos 6,7 passageiros. Seis meses depois, estamos receber entre 80 e 90 passageiros que vêm através daqueles destinos que conectam com o nosso voo para Lisboa e Porto. Neste inverno, ligaremos para o nosso voo para o Brasil, Havana e talvez Dubai. São essas coisas que irão aumentar o nosso negócio daqui para frente. E isso permitiu-nos manter voos diários duplos para Portugal todo o tempo, mesmo no Inverno, quando, no passado, teríamos de reduzir o número de frequências nessa altura, por falta de demanda.

Resultado de imagem para Peter Hill TAAGOnde vê a TAAG chegar sob o seu comando? A Emirates tem um contrato de gestão de 10 anos aqui. Eu, provavelmente, vou estar aqui por mais dois anos, mais ou menos. Até agora, financeiramente esperamos, pelo menos, atingir o ‘breakeven’ no momento em que sair. Isso é um grande passo, porque esta empresa nunca o fez ao longo da sua história. 
Resultado de imagem para rotas da TAAG
Em segundo lugar, queremos construir a marca para que as pessoas olham para a TAAG como uma das transportadora aéreas líderes em África. Esse é o objectivo. Se vamos ser capazes de o alcançar, vamos ver... De qualquer forma, vou recebendo declarações positivas de muitos dos nossos clientes regulares que estão a notar diferenças. Os voos são muito mais pontuais do que eram no passado. O interior da aeronave é muito mais limpo, muito melhor do que eram. O serviço de chão começou a funcionar melhor. Não é o ideal, porque não estamos a operar num aeroporto ideal. É um muito congestionado aeroporto, lotado. Mas tentamos melhorar os processos que controlamos tanto quanto podemos. O que gostaria de ver em três anos é as pessoas dizerem: “Há aí o voo da TAAG? eu vou com a TAAG”, enquanto, no passado, era: “TAAG? que outra companhia também vai?” (Por Cândido Mendes) 

Oficialmente esquecida

Resultado de imagem para Igreja de Cristo Unida moçambiqueNo passado chamou-se American Board, mas hoje leva o nome de Igreja de Cristo Unida em Moçambique. Poucos, sobretudo as novas gerações, ouviram falar dela, mas nem por isso foi menos preponderante no movimento nacionalista moçambicano. Tal como a glorificada igreja presbiteriana, ligada à elite da Frelimo do sul de Moçambique com Eduardo Mondlane como dos principais rostos, a ex-American Board, associada pelo regime dominante a “perigosos reaccionários” oriundos do centro de Moçambique, como Nkamba e Uria Simango, foi determinante na luta contra a opressão portuguesa, o que lhe custou perseguição por um sistema colonial intolerante para com as chamadas igrejas protestantes. Nós, no SAVANA, fomos revisitar a história, ouvimos testemunhas vivas e, nas próximas linhas, tentamos contar esse passado sinuoso, de torturas e sangue, que a história oficial, simplesmente, ignora. No seu livro intitulado “Toward African Church in Mozambique”, qualquer coisa como “Rumo à Igreja Africana em Moçambique”, uma obra que traça o percurso da ex-American Board, da América à África do Sul, passando pelo então Império de Gaza até ao Zimbabwe, o historiador americano, Leon Spencer, refere que foi em Julho de 1892 que os primeiros missionários americanos, liderados por Fred Bunker, chegaram à Beira. Tratava-se dos primórdios de uma igreja que só viria a se fixar, oficialmente, em 1905. Com a presbiteriana fortemente presente no sul de Moçambique, a ex- -American Board centrou as atenções na região centro, precisamente, nos antigos distritos de Manica e Sofala, hoje províncias. Num contexto de colonização, para além do evangelho, a igreja alargou a sua acção para a consciencialização das comunidades contra a opressão portuguesa. Com Manica e Sofala, na altura sob domínio da Companhia de Moçambique, que submetia as populações a grandes plantações de açúcar e algodão, a ex-American Board, que nos seus cultos dava ênfase à liberdade dos homens, foi a primeira igreja a denunciar Portugal na então Sociedade das Nações, hoje Nações Unidas, acusando Lisboa de actos de escravatura em Moçambique. Reza a história que, por força da conjuntura do século XIX, marcada pela propagação dos ideais do liberalismo, que preconizava a liberdade do homem, Lisboa declarou, oficialmente, a abolição da escravatura, em 1878. Mas o certo é que Portugal continuava a escravizar os “indígenas” nas suas colónias. Assim, um contundente relatório-denúncia submetido em Nova York pela ex-American Board fez com que o mundo se revoltasse contra Portugal, o que azedou as já tensas relações entre aquele país europeu e a igreja de origem americana. Nem mais: Portugal intensificou a perseguição contra a igreja que chegou a ser banida. Foi mesmo na tentativa de escapar das masmorras do colonialismo que os seus membros decidiram mudar de A ex-American Board e o nacionalismo moçambicano A igreja que a história oficial preteriu Por Armando Nhantumbo designações. Assim, de American Board, em 1905, passa a designar-se, em 1935, como Associação Evangélica Portuguesa; em 1944 como Conselho Intermissionário da Beira; em 1947 como Igreja de Cristo em Moçambique - Ramo Manica e Sofala e só em 1985, depois da independência, é que passou a se designar Igreja de Cristo Unida em Moçambique (Ex-Missão American Board).  No quadro do seu papel no nacionalismo moçambicano, a American Board enviou jovens para se juntarem à Frelimo na Tanzânia, o berço da Luta de Libertação Nacional. Feliciano Gundana, natural 
Resultado de imagem para Igreja de Cristo Unida em Moçambique
de Sofala, que já desempenhou as funções de Adjunto chefe do Departamento de Defesa e Segurança, governador de Inhambane, Zambézia e Nampula, ministro dos Combatentes e da Presidência para Assuntos da Casa Militar, assim como outros crentes, estudou na escola da ex-American Board e foi pela mão desta igreja que rumou à Tanzânia, onde se juntou à Frelimo. Deolinda Guezimane, igualmente antiga combatente e ex-secretária-geral da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), o braço feminino da Frelimo, mais tarde deputada na Assembleia da República e Conselheira de Estado, é também uma das muitas jovens que “cresceu” na ex-American Board, de onde mais tarde seguiu para a Tanzânia. Lucas Chomera, deputado da Frelimo na Assembleia da República, onde preside a Comissão da Administração Pública e Poder Local, foi também um dos vários jovens que hoje a igreja diz terem sido “filhos de casa”. Entretanto, quis o destino que, em Moçambique, a igreja tivesse como precursores “inimigos jurados” da Frelimo. 
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Um deles foi Nkamba Simango, o primeiro moçambicano doutorado nos Estados Unidos da América (EUA), muito antes de Eduardo Mondlane celebrado pela histó- ria oficial como o primeiro doutor em Moçambique. Natural de Machanga, por volta dos anos 1890, Nkamba Simango, descrito na obra de Leon Spencer, investigador e docente de história africana, como um “líder religioso bem treinado”, teve os primeiros laços com a ex- -American Board na Beira e Monte Selinda (em território zimbabweano), mas essa ligação ficou fortalecida nos EUA, onde para além de se formar em Sociologia e Psicologia, ensinou, mais tarde, Chindau no Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia, entre vários outros títulos que obteve. Fazendo da religião um instrumento para a liberdade humana, Nkamba Simango já observara, em 1921, que “nos velhos tempos, o homem negro era detido por indivíduos, enquanto hoje é detido por governos e corporações”, defendendo que “devemos agir para libertar estas pessoas” em referência aos escravos. Uma outra geração ligada à ex- -Missão American Board, por sinal a terceira, integrou o Reverendo Uria Simango, que foi, mais tarde, um dos fundadores da Frelimo, partido no qual chegou a ser vice-presidente, co- djuvando Eduardo Mondlane. Tal como Nkamba Simango, Uria teve a sua vida, intrinsecamente, ligada a esta igreja de que pouco se fala. Em “Uria Simango, um homem, uma causa”, Barnabé Lucas Nkomo retrata a “história da penosa trajectória política de um missionário revolucionário, cujo empenho e dedicação à causa da libertação do seu povo foram negados pela memória colectiva da história recente do seu país”. Também natural de Machanga, Uria acabaria, barbaramente, assassinado entre Maio de 1977 e Junho de 1980, no campo de reeducação de M´telela, distrito de Majune, província do Niassa. (por : Armando Nhantumbo)